quinta-feira, 29 de abril de 2010

METAS TÃO OUSADA PARA UMA HUMANIDADE TÃO LIMITADA


Cristo falava de um amor estonteante. Um amor que irriga o sentido de vida e o prazer da existência.
Um amor que se doa, que vence o medo, que supera as perdas, que transcende as dores, que perdoa.
Ele vivenciou esta história de amor. O amor aplainava suas veredas, fazia-o sentir-se satisfeito, sereno, tranqüilo, seguro, estável, em detrimento dos longos e dramáticos invernos existenciais que vivia.
A uns ele dizia “não chores”, a outros “não temas” e ainda a outros “tendes bom ânimo”. Estava sempre animando, consolando, compreendendo e envolvendo as pessoas e encorajando-as a superar seus temores, desesperos, fragilidades, ansiedades. Cristo demonstrou uma disposição impensável de amar, mesmo no ápice da dor.
Suas palavras e atitudes são como um sonho para as sociedades modernas que mal conseguem escalar alguns degraus da cidadania e do humanismo. Se transportarmos o pensamento de Cristo para a atualidade, podemos inferir que ele queria construir na humanidade uma esfera tão rica afetivamente que o ser humano deixaria de ser um mero nome, “conta bancária”, “título acadêmico”, “número de identidade”, e passaria a ser uma pessoa insubstituível, singular e verdadeiramente amada.
Somente o amor torna as pessoas insubstituíveis, especiais, ainda que não tenham status social ou cometam erros e experimentem fracassos ao longo da vida.
Qualquer mestre deseja que seus discípulos se tornem sábios, tolerantes, criativos e inteligentes. A bela Academia de Platão tinha no máximo essas exigências. As teorias educacionais e psicopedagógicas de hoje têm uma exigência menor ainda, pois não incluem a conquista da tolerância e da sabedoria na sua pauta. Nem o inteligente Piaget colocou tais metas em sua pauta intelectual. Contudo, Cristo foi muito mais longe que a Academia de Platão e que as metas educacionais da modernidade.
Os que seguiam o mestre dos mestres tinham que aprender a não apenas destilar sabedoria nos invernos da vida, percorrer as avenidas da tolerância, e expandir a arte de pensar, mas também aprender a mais nobre de todas as artes, a arte de amar. Ninguém teve metas tão elevadas para uma humanidade tão limitada...
 
Augusto Cury - Análise da Inteligência de Cristo
O Mestre dos Mestres

terça-feira, 20 de abril de 2010

O beijo de Judas Iscariotes e a amabilidade como Cristo trata seu traidor

Antes de Cristo ser julgado, várias tentativas tinham sido feitas para prendê-lo, todas sem sucesso.
Numa delas, os sacerdotes e os fariseus ficaram indignados com os soldados que voltaram de mãos vazias. Dessa vez, a frustrada tentativa não recaiu sobre o medo da reação da multidão, que não aceitaria a prisão de Cristo, mas porque os soldados ficaram atônitos com as suas palavras. Eles disseram aos sacerdotes que “nunca alguém falou como este homem”. Os sacerdotes, indignados com os soldados, os repreenderam e disseram que ninguém da cúpula judaica havia acreditado nele, apenas a “ralé” inculta. O que não era verdade, pois vários sacerdotes e fariseus admiravam e acreditavam em Cristo, mas tinham medo de declarar isso em público.
Apesar de várias tentativas frustradas, chegou o momento de ele ser traído, preso e julgado. Ele impressionou os soldados que o prenderam por se entregar espontaneamente, sem qualquer resistência. Além disso, intercedeu pelos três discípulos que o acompanhavam, pedindo aos guardas que não os prendessem. Assim, no momento em que foi preso, continuou a ter atitudes incomuns; ainda havia disposição nele para cuidar fraternalmente do bem-estar dos seus amigos.
Quando sofremos, só temos disposição para aliviar nossa dor, mas quando ele sofria ainda havia disposição nele para cuidar dos outros. E não apenas isso, na noite em que foi traído, sua amabilidade e gentileza eram tão elevadas que teve reações impensáveis com seu próprio traidor.

Vejamos.

Cristo foi traído e preso no jardim do Getsêmani. Era uma noite densa e ele estava orando e esperando esse momento. Então, Judas Iscariotes apareceu com um grande número de guardas. Cristo tinha todos os motivos para repreender, criticar e julgar Judas. Todavia, o registro de Mateus diz que, mesmo nesse momento de profunda frustração, ele foi amável com seu traidor chamando-o de amigo, dando-lhe, assim, mais uma oportunidade para que ele se interiorizasse e repensasse em seu ato. Judas, nesse momento, fez um falso elogio: “Salve, ‘Mestre’!”, e o beijou. Jesus, porém, lhe disse:
“Amigo, para que vieste?”. Aqui há algumas importantes considerações a serem feitas.
O beijo de Judas indica que Cristo era amável demais. Judas, embora estivesse traindo seu mestre, embora o conhecesse pouco, conhecia o suficiente para saber que ele era amável, dócil e tranqüilo. Sabia que não seria necessário o uso de nenhuma agressividade, nenhuma emboscada ou armadilha para prendê-lo. Um beijo seria suficiente para que Cristo fosse reconhecido e preso naquela densa noite escura no jardim do Getsêmani.
Qualquer pessoa traída tem reações de ódio e de agressividade. Por isso, para traí-la e prendê-la são necessários métodos agressivos de segurança e contenção. Entretanto, Cristo era diferente. Judas sabia que ele não reagiria, que não usaria qualquer violência e muito menos fugiria daquela situação, portanto bastava um beijo. Em toda história da humanidade, nunca alguém, por ser tão amável, foi traído de maneira tão suave!
Cristo sabia que Judas o trairia e estava aguardando por ele. Quando ele chegou, Cristo, por incrível que pareça, não o criticou nem se irritou com ele. Teve uma reação totalmente diferente do nosso padrão de inteligência. O normal seria ofender o agressor com palavras e gestos ou emudecer diante do medo de ser preso. Porém Cristo não teve essas reações. Ele teve a coragem e o desprendimento de chamar o seu traidor de amigo e a gentileza de levá-lo a se interiorizar e a repensar sua atitude.
Perdemos com facilidade a paciência com as pessoas, mesmo com aquelas que mais amamos.
Dificilmente agimos com gentileza e tranqüilidade quando alguém nos aborrece e nos irrita, ainda que esse seja nosso filho, aluno, amigo ou colega de trabalho. Desistimos fácil daqueles que nos frustram, decepcionam.
Judas desistiu de Cristo, mas Cristo não desistiu de Judas. Ele deu-lhe até no último minuto uma preciosa oportunidade para que ele reescrevesse sua história. Que amor é esse que irrigava a emoção de Cristo com mananciais de tranqüilidade num ambiente desesperador? Que amor é esse que o conduzia, mesmo no ápice da sua frustração, a chamar seu traidor de amigo e a estimulá-lo a revisar a sua vida? Nunca, na história, um traidor foi tratado de maneira tão amável e elegante! Nunca o amor chegou a patamares tão elevados e sublimes.

Análise da inteligência de Cristo : o Mestre dos Mestres
 Augusto Jorge Cury — São Paulo: Academia de Inteligência, 1999.

sábado, 3 de abril de 2010

Cristo não poderia ter sido fruto da criatividade intelectual de algum autor


Por um lado, há muitos fatos psicológicos que demostraram claramente que os autores dos evangelhos não tinham a intenção consciente e inconsciente de criar literariamente um personagem como Cristo foi; por outro lado, precisamos investigar se a mente humana tem capacidade de criar uma personalidade como a dele.

Vejamos.

Cristo não se comportava nem como herói nem como anti-herói. Sua inteligência era ímpar. Seus comportamentos fugiam aos padrões do intelecto humano. Quando todos esperavam que falasse, ele silenciava. Quando todos esperavam que tirasse proveito dos atos sobrenaturais que praticava, pedia para que as pessoas ajudadas por ele não contassem a ninguém o que havia feito. Ele evitava qualquer tipo de ostentação. Que autor poderia imaginar um personagem tão intrigante como esse? Na noite em que foi traído, facilitou sua prisão, pois levou consigo apenas três dos seus discípulos. Não quis que a multidão que sempre o acompanhava estivesse presente naquele momento. Mesmo com a presença de alguns discípulos já houve alguma agressividade naquela situação, pois Pedro feriu um dos soldados. Não queria derramar sangue ou causar qualquer tipo de violência. Ele estava preocupado tanto com a segurança das pessoas que o seguiam como com a dos seus opositores, daqueles que o prenderam5. É incomum e muito estranho uma pessoa se preocupar com o bem-estar dos seus opositores! Ele previu a sua morte por algumas vezes e facilitou sua prisão. O mundo dobrou-se aos seus pés não pela inteligência dos autores dos quatro evangelhos, pois neles não há intenção de produzir um texto com grande estilo literário. O mundo o reconheceu porque seus pensamentos e atitudes eram tão eloqüentes que falavam por si só, não precisavam de arranjos literários dos seus biógrafos. O que chama a atenção nas biografias de Cristo são seus comportamentos incomuns, seus gestos que extrapolam os conceitos, sua capacidade de considerar a dor de cada ser humano mesmo diante da sua própria dor. Estudaremos que suas idéias eram tão surpreendentes que não têm precedente histórico. Até os seus momentos de silêncio tinham grande significado. Creio que diversas passagens, expressas em suas quatro biografias, possuem tantos segredos intelectuais que muitas não foram compreendidas nem pelos seus próprios autores na época em que as escreveram. As reações de Cristo realmente contrapõem-se aos nossos conceitos, estereótipos e paradigmas (modelos de compreensão e padrões de reação).

Vejamos sua entrada triunfal em Jerusalém.

Após ter percorrido por um longo período toda a região da Galiléia, inúmeras pessoas o seguiam. Agora, havia chegado o momento de entrar pela segunda e última vez em Jerusalém, o grande centro religioso e político de Israel. Naquele momento, Cristo estava no auge da sua popularidade. As pessoas estavam eufóricas e o proclamavam como rei de Israel6. Alguns discípulos, que àquela altura ainda não estavam cientes do seu desejo, até disputavam quem seria maior se ele conquistasse o trono político7. Os discípulos e as multidões estavam extasiadas. Entretanto, mais uma vez ele teve uma atitude imprevisível que chocou a todos. Quando todos esperavam que ele entrasse triunfalmente em Jerusalém, com uma grande comitiva e pompa, tomou uma atitude clara e eloqüente que demonstrava que rejeitava qualquer tipo de poder político, pompa e estética exterior. Ele mandou alguns dos seus discípulos pegar um pequeno animal, um jumentinho, e teve a coragem de montar naquele desajeitado animal. E foi assim que aquele homem superadmirado entrou em Jerusalém. Nada é mais satírico e desproporcional do que o balanço de um homem transportado por um jumento... O animal é forte, mas é pequeno. Quem o monta não sabe onde colocar os pés, se os levanta ou os arrasta pelo chão. Que cena impressionante! As pessoas, mais uma vez, ficaram chocadas com o comportamento de Cristo. Mais uma vez ficaram sem entendê-lo. Os seus discípulos, que estavam tão eufóricos com tanto apoio popular, receberam um “balde de água fria”. Porém, as pessoas, confusas e ao mesmo tempo admiradas, colocavam suas vestes sobre o chão para ele passar e o exaltavam como o rei de Israel. Elas queriam proclamá-lo um grande rei e ele demonstrava que não queria nenhum poder político. Queriam exaltá-lo, mas ele expressava que para atingir seus objetivos, o caminho era a humildade, era preciso aprender a se interiorizar. Cristo propunha uma revolução que se iniciava no interior do homem, no secreto do seu ser, e não no exterior, na estética política. É impressionante, mas ele não se mostrava nem um pouco preocupado, como geralmente ficamos, com aparência, poder, status social, opinião pública. Imaginem o presidente dos EUA, no dia da sua posse, solicitando aos seus assessores que arrumem um pequeno animal, como um jumento, para ele entrar na Casa Branca. Certamente esse presidente seria encorajado a ir imediatamente a um psiquiatra. A criatividade intelectual não consegue criar uma personalidade que possui uma inteligência requintada e, ao mesmo tempo, tão despojada e humilde. Uma pessoa, no auge da sua popularidade, explode de orgulho e modifica o padrão das suas reações. Algumas, ainda que humildes e humanistas, ao subir num pequeno degrau da fama olham o mundo de cima para baixo e se colocam, ainda que inconscientemente, acima dos seus pares. Cristo estava no ápice do seu sucesso social, todavia, ao invés de se colocar acima dos outros, ele desceu todos os degraus da simplicidade e do despojamento, e deixou todos perplexos com sua atitude. Se caminhasse a pé seria mais digno e menos chocante. Porém ele preferiu subir num pequeno animal para estilhaçar os paradigmas das pessoas que o contemplavam e abrir as janelas das suas mentes para outras possibilidades. Qualquer presidente do mais miserável dos países entraria com mais pompa e estética na sede do seu governo. As características da personalidade de Cristo realmente ultrapassavam os limites da criatividade intelectual humana. Ele surpreendia até os biógrafos que conviveram com ele. A personalidade de Cristo foge aos parâmetros da imaginação. Sua inteligência flutuava entre os extremos. Em alguns momentos expressava uma grande eloqüência, coerência intelectual e segurança e, em outros, dava um salto qualitativo e expressava o máximo da singeleza, resignação e humildade. Cristo possuía uma personalidade tão requintada que se expressava como uma melodia que rimava entre os extremos das notas musicais. Conheço muitas pessoas, entre elas psiquiatras, psicólogos, intelectuais, cientistas, escritores, empresários. Entretanto, nunca encontrei ninguém cuja personalidade possuísse características tão surpreendentes como a dele. Quem é que no auge do seu sucesso conserva suas raízes mais íntimas? Essa perda de raízes diante do sucesso nem sempre ocorre pela determinação do “eu”, mas por processos intelectuais que fogem ao controle do eu. Muitas pessoas, depois de alcançar qualquer tipo de sucesso, perdem, ainda que inconsciente e involuntariamente, não apenas as suas raízes históricas, mas também sua capacidade de contemplação do belo diante dos pequenos eventos da rotina diária. Por isso, com o decorrer do tempo diversas pessoas que conquistam a notoriedade se entediam com a fama e acabam procurando uma vida mais reservada.

Será que alguns personagens da literatura mundial aproximaram-se da personalidade de Cristo?

Desde que Gutenberg inventou as técnicas gráficas modernas, tem havido dezenas de milhares de autores que criaram milhões de personagens na literatura. Será que algum desses personagens teve uma personalidade com as características de Cristo? Está aí um bom desafio de investigação! Realmente creio que não. As características de Cristo fogem ao padrão do espetáculo da inteligência e criatividade humanas. No passado, Cristo era para mim fruto da cultura e da religiosidade humana. Porém, após anos de investigação, convenci-me de que não estou estudando a inteligência de uma pessoa fictícia, imaginária, mas de alguém real, que andou e respirou nesta terra. É possível rejeitá-lo, todavia se investigarmos as suas biografias não há como negar a sua existência e reconhecer a sua perturbadora personalidade. A personalidade de Cristo é “inconstrutível” pela imaginação humana.
   
                                              Augusto Cury - Análise da Inteligência de Cristo - O Mestre dos Mestres

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